Evolução dos meus cabelos

A evolução dos cabelos, uma história de transição ...

Os comprimento dos cabelos refletem momentos da vida, conquistas e perdas pois a medida que crescem temos que ir alterando o modo de vida, enfrentando a família, os preconceitos na sociedade e no trabalho, pois um cabelo comprido, pintado num rostinho maquiado sem barba é como carregar uma bandeira pela rua dizendo: "sou diferente, sou transexual ..."


Até agora vivi o que a sociedade e a família me exigiram, fui marido, pai, executivo, cheguei quase ao topo do que a profissão me permitia, ocupei um cargo de diretor técnico de uma multinacional presente no mundo inteiro, mas que por motivos de diminuição de despesas na filial Brasil terminou me dispensando...

Nos meses que se seguiram foram momentos de repensar a vida, tudo que conquistei até agora e o tempo que ainda tenho pela frente para conquistar novamente meus objetivos, refiz planos, refiz objetivos e resolvi iniciar a minha vida feminina enquanto ainda é tempo, tenho anos para deixar o cabelo crescer, fazer laser no rosto, procurar uma nova profissão mais feminina...

Logo consegui um novo trabalho numa empresa Nacional, mas minha vida nunca mais foi a mesma, o objetivo de viver uma vida feminina no futuro se tornou algo muito forte que me faria enfrentar muito preconceito na empresa e clientes a medida que o cabelo fosse crescendo...
E o tempo foi passando...

Março 2001... 

Abril 2001...

Maio 2001...

Junho 2001...

Setembro 2001...

Outubro 2001...

Novembro 2001...

Dezembro 2001...

Março 2002 - Iniciei meu curso de cabeleireiro no SENAC-SP podia ser estranho um engenheiro bem sucedido fazendo um curso nessa área, mas foi muito gostoso poder me abrir com a turma e contar sobre meus objetivos para o futuro... saía do trabalho e tinha o maior prazer em soltar o cabelo e ir para as aulas mesmo usando terno e gravata...

Abril 2002...

Junho 2002...

Julho 2002...

Agosto 2002...

Setembro 2002...

Outubro 2002...

Novembro 2002 - Minha formatura como cabeleireira, agora novos rumos, planos, novas experiências...

Dezembro 2002 - Como já esperava fui demitida de um cargo de Gerencia de Compras e Suprimentos de uma grande empresa, era muito visível que eu estava passando por uma transição que eles não saberiam como lidar. Já formada iniciei o trabalho como cabeleireira num salão da Vila Mariana em SP, um início difícil, muita teoria na cabeça e pouca prática, alguns cortes errados, alguns clientes insatisfeitos no início, não era tão fácil quanto eu pensava mesmo para alguém que passou a vida resolvendo grandes problemas para grandes empresas. As vezes ainda me sentia meio envergonhada e insegura de colocar o salto alto para vir trabalhar mas a dona do salão me encorajava : "vai a luta menina, te assuma de vez..."

Janeiro 2003...

Fevereiro 2003 - Começo a prestar serviços nas horas de folga para a Prefeitura de SP como agente de prevenção (remunerada) para dar assistência as travestis da zona Oeste e apresentar os trabalhos do posto de prevenção da Prefeitura da LAPA na prevenção e tratamento para doenças sexualmente transmissíveis.

Abril 2003...

Maio 2003 - Viagem a Porto Alegre patrocinada pela Prefeitura de SP para participação num congresso de Transexuais e Travestis, 150 meninas de todo Brasil num forum sobre AIDS. Minha primeira experiência longe de casa viajando com uma mala totalmente feminina.

Junho 2003 - Horários cheios, o trabalho num salão popular não é muito rentável e não tenho conseguido mudar para um salão que fosse de maior nome e mais rentável, por incrível que pareça tem mais preconceito para uma transexual nesse meio do que eu imaginava... num dos últimos bons salões que fiz entrevista ouvi da dona que para ela homem tem que ter cara de homem... tem sido uma decepção atrás da outra e não posso ficar parada.

Junho 2003 - Participei da Parada Gay na Paulista como agente de Prevenção da Prefeitura fazendo distribuição de camisinhas.

Setembro 2003... - CORTEI O CABELO !!! A vida como cabeleireira não tem se mostrado muito estável como eu estava acostumada a viver, vejo necessidades da minha filha que não estou podendo suprir, penso em voltar a trabalhar como menino novamente na minha área pelo menos por mais um tempo para planejar melhor como conseguir viver mais estável sendo cabeleireira ou retornando a minha profissão anterior. Penso em prender o cabelo e passar por menino novamente.

Novembro 2003...

Janeiro 2004... - REPIQUEI TODO ELE !!! Deu uma sensação de mais volume.

Fevereiro 2004... - CORTEI MAIS AINDA !!! Fiz várias entrevistas para grandes empresas, no final nunca consigo ficar com a vaga, parece que o cabelo tem atrapalhado, um executivo com rabo de cavalo não é o padrão que eles esperam, cheguei ao final de duas grandes entrevistas,  nessa última me foi estabelecido que para passar a entrevista final com o diretor no Brasil eu teria que estar de cabelo curto e se eu estava disposto a prosseguir, chorei mas cortei, e após quase 1 hora de entrevista, boa parte em Ingles, me ligaram no outro dia dizendo que a vaga ficou com outra pessoa...

Junho 2004 - Iniciei meu trabalho como menino numa empresa Nacional, importadora de grandes marcas Internacionais, já está programado treinamento no exterior, continuo atendendo no meu salão em casa e alguns amigos a domicílio só pelo prazer de fazer algo profissional como mulher... voltar ao dia a dia como menino tem sido um nó na minha cabeça.

É um misto de tristeza e decepção por não ter conseguido me estabilizar nos prazos que me propus, mas ao mesmo tempo volto a me sentir seguro numa empresa estável que já tem os próximos meses programados e meu salário garantido...

Outubro 2004

Novembro 2004

Dezembro 2004

Janeiro 2005

Março 2005

Abril 2005 - Estive fazendo um curso nos EUA em uma das fabricas que representamos e agora passo viajando pelo Brasil trabalhando nas máquinas, ainda continuo com uma vida dupla.

Maio 2005

Outubro 2005

Dezembro 2005 - Não sei porque nunca havia pensado antes em fazer minha plástica no nariz já que nunca gostei dele, mas finalmente venci mais essa barreira e fiz meu narizinho no especialista das transexuais, pensei que iria sofrer alguma repressão no trabalho, mas nada mudou, pouco tempo depois as pessoas diziam que já nem lembravam de como eu era, mas o resultado logo viria a mudar muito o meu dia a dia, as pessoas passariam a me confundir mais com mulher mesmo estando com roupas masculinas no dia a dia...

Janeiro 2006

Abril 2006

junho 2006

julho 2006 - Ainda continuo trabalhando como menino, viajo muito pelo Brasil instalando máquinas e dando treinamentos nas indústrias, já começa acontecer de alguns clientes virem me perguntar se não tenho outro nome para eles me chamarem pois de Joãozinho está ficando meio difícil..

Novembro 2006

Não tem mais como os clientes não me questionarem quanto a minha identidade, tenho respondido abertamente as suas perguntas, tenho passado com liberdade o endereço de Facebook e Orkut, muitos tem se cadastrado na minha lista de amizades, as pessoas se dividem dentro das fábricas quanto a me chamar de Carmem ou de Joãozinho. O assunto já chegou no escritório onde trabalho, claro que houve algum stress mas continuo por lá.

Fevereiro 2007 - Fui fazer um curso na Itália em outra das fábricas que representamos, o interessante é que houve questionamento posterior com meu chefe de que não teriam interesse em ter alguém como eu no seu quadro técnico dos representantes. Mais um stress...

Outubro 2010 - Continuo trabalhando, agora já me apresentando como Carmem e tenho sido bem recebida pelos clientes.

Dezembro 2012 - Recentemente troquei toda minha documentação e continuo no mesmo escritório, sempre viajando bastante e tendo boa aceitação por parte da empresa e dos clientes.

Levo agora uma vida bem normal como sempre desejei, trabalho, amigos, família ...

Fins de semana sou metida a atleta.

Minha filha está com 19 anos e uma grande companheira que esteve presente em todos os meus passos.

E nem tenho como falar sobre o companheiro, amigo, confidente, que me acompanha por toda essa história desde o início